sábado, 2 de abril de 2011

A NAU DOS INSENSATOS

NÃO ACEITAR CRÍTICAS

   O néscio mostra um sinal garantido de sua estupidez quando não tolera e sequer tem paciência para ouvir coisas sensatas. Um sábio aprecia ouvir sobre assuntos de bom-senso, por meio dos quais amplia sua sabedoria. A gaita de fole é o instrumento dos insensatos; pela harpa eles têm pouco apreço. Nenhum bem é mais estimado pelo tolo do que seu bordão e sua gaita. Quem está equivocado, pouco aceita ser repreendido, e assim o número de néscios aumenta sem parar. Oh, tolo, deves lembrar em todos os instantes que és humano e irás morrer; não és nada senão argila, cinzas, terra e excremento. Dentre todas as criaturas da natureza que têm juízo, a mais insignificante és tu, que não passas de espuma, saco de vermes, bastardo. Como podes ufanar-se de teu poder e nobreza, juventude, dinheiro, aparência, se tudo sob o sol é inútil quando a sabedoria está ausente? É melhor receber a censura de um sábio do que o sorriso de uma parva ovelha. Semelhante ao estalo dos espinhos do cardo quando ele cai, assim é o riso do insensato. Por isso, abençoado aquele que, onde quer que esteja, vive no temor a Deus. O coração do sábio também conhece o pesar; o do néscio somente atenta para a gaita. Pode-se cantar e falar, pedir e suplicar que abandone sua obstinação; ele não entenderá ensinamento nem repreensão. (página 155, ed. de 2010)

- "O livro A NAU DOS INSENSATOS foi escrito por Sebastian Brant (1457-1521)em 1494 como um longo poema satírico, de perspectiva moralizante, em que o autor aponta com dedo crítico e irônico para a sociedade de seu tempo, denunciando as falhas e vícios tanto da nobreza quanto do vulgo, não poupando Igreja, Justiça, universidades e outras instituições." - Introdução  - tradução de Karin Volobuef

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