sábado, 29 de janeiro de 2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Carlos Drummond de Andrade

QUERO
Quero que todos os dias do ano
todos os dias da vida
de meia em meia hora
de 5 em 5 minutos
me digas: Eu te amo.
Ouvindo-te dizer: Eu te amo,
creio, no momento, que sou amado.
No momento anterior
e no seguinte,
como sabê-lo?
Quero que me repitas até a exaustão
que me amas que me amas que me amas.
Do contrário evapora-se a amação
pois ao dizer: Eu te amo,
desmentes
apagas
teu amor por mim.
Exijo de ti o perene comunicado.
Não exijo senão isto,
isto sempre, isto cada vez mais.
Quero ser amado por e em tua palavra
nem sei de outra maneira a não ser esta
de reconhecer o dom amoroso,
a perfeita maneira de saber-se amado:
amor na raiz da palavra
e na sua emissão,
amor
saltando da língua nacional,
amor
feito som
vibração espacial.
No momento em que não me dizes:
Eu te amo,
inexoravelmente sei
que deixaste de amar-me,
que nunca me amaste antes.
Se não me disseres urgente repetido
Eu te amo amoamoamoamoamo,
verdade fulminante que acabas de desentranhar,
eu me precipito no caos,
essa coleção de objetos de não-amor.
(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Clarice Lispector

"É curioso como não sei dizer quem sou. Quer dizer, sei-o bem, mas não posso dizer. Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo." (Clarice Lispector)

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Para refletir

"Às vezes, as correntes que nos impedem de sermos livres são mais mentais do que físicas."

Padre Fábio de Mello

ALGUÉM

Alguém me levou de mim
Alguém que eu não sei dizer
Alguém me levou daqui.
Alguém, esse nome estranho.
Alguém que eu não vi chegar
Alguém que eu não vi partir
Alguém, que se alguém encontrar,
Recomende que me devolva a mim.

(Padre Fábio de Mello)

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

RECEITA

RECEITA PARA MELHORAR A APARÊNCIA SEM USO DE COSMÉTICOS

Para os seus lábios use a verdade;
para a sua voz, a oração;
para seus olhos, a simpatia;
para suas mãos, a caridade;
para suas atitudes, a retidão;
para seu coração, o amor!
Procure manter um sorriso o tempo todo.
Aprenda a obter da vida a alegria
e divida-a generosamente com os outros.

(Desconheço Autoria)

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Irretocável

Irretocável
(Desconheço Autoria)

Tenho cabelos vermelhos, pintados,
para esconder os fios brancos.

Não me lembro exatamente em que
ano eles começaram a branquear...

Tenho algumas rugas em volta dos olhos,
também não me recordo quando
elas começaram a aparecer.

Tento disfarçá-las, tantas novidades
no campo da dermatologia,
achei por bem aproveitá-las.
 
Do corpo não cuido quase,
só recentemente entrei para uma
academia por ordem médica.

Ele me disse que na minha idade preciso de exercícios.
Mas falto mais do que vou, não gosto de fazer ginástica.

Das minhas unhas cuido semanalmente,
penso que elas são uma porta de visita.
Unhas maltratadas causam uma péssima impressão.

De uns dois anos pra cá descobri os
cremes e aí compro um aqui,
outro ali e no final não uso nenhum,
mas compro, só de olhá-los na prateleira
já percebo que as rugas se retraem.

Sou assim, vaidosa,
mas não sou em excesso,
penso que sou na medida certa,
na medida correta para uma mulher.
 
Enfim os anos passam e as
marcas que eles deixam em nós,
não temos como conter.
Nem pretendo isso.

Acho que cada marca que meu corpo
carrega tem uma linda história.

Às vezes me pego na frente do espelho
descobrindo uma nova ruguinha
e já me coloco a pensar o que a causou.

Depois reencontro com outra que já está lá
vincada há anos e me recordo que ela
apareceu quando perdi um grande amor.

Poderia enumerar também a história
de cada fio de cabelo branco.
Foram filhos, maridos,
amigos que colocaram eles ali.
Não quero me desfazer de nenhuma dessas marcas,
apenas amenizá-las, acho que mereço isso.
A vida me deve isso.

Atualmente a parte que merece mais
atenção minha tem sido a cabeça.
Tento todos os dias colocá-la no lugar,
equilibrá-la, alimentá-la com sonhos e alegrias.

Corpo e mente caminham juntos,
se um estiver em estado lastimável o
outro provavelmente vai se deteriorar.

Não escondo minha idade,
não adiantaria falar que tenho trinta e cinco
e apresentar uma filha de vinte e sete.

Portanto eu confesso, tenho cinquenta e um!
Metade deles, bem vividos,
a outra metade muito sofridos.

Mas é exatamente aí que está
o encanto da minha idade.
Conheci de tudo um pouco,
das lágrimas aos sorrisos e ambos me
fizeram ser essa pessoa que sou hoje.

Ficaram as rugas no rosto e na alma,
mas também ficaram sorrisos em ambos.

Minhas rugas mais bonitas são aquelas
marcas de expressão que eu
adquiri por tanto sorrir,
muitas vezes, quando o coração chorava.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

CHUVA: tragédia anunciada... desde sempre...

PRELÚDIO DA MONÇÃO

Vai chover muito.
No jardim que se esboroa de secura,
cada folha suplica uma gota d'água.
Os passarinhos já fecham os olhos,
antes que o sol lhes seque
o pingo líquido dos olhos.

As cigarras crepitam,
queimadas sobre os troncos ardentes.
Sai o halo de fogo de dentro das pedras.
Não há nada a fazer, senão descair
como as lânguidas palmas.
Esperar que seja possível a vida.

Vai chover muito:
tudo está olhando para as nuvens que engrossam,
que tropeçam no seu peso,
se acomodam para choverem tranquilamente.
Ah! como vai chover...

A ordem virá de um vento brando
que ainda se adestra longe.
Seu corcel pulará de súbito no alto do monte
e seu chicote luzirá no céu, turvo de azul.

Talvez o mar já sinta o comando remoto
e esteja concentrando seus cristais verdes,
estendendo sua pequena espuma fatigada,
cavando suas cavernas roxas,
oleosas campânulas súbitas,
nesse campo de estranhas metamorfoses.

Tremerão levemente estas pequenas folhas sensíveis,
e a sombra do céu virá toldar estas serenas estátuas.
As areias se moverão, timidamente, em seus lugares
e os galhos secos tristemente cairão, para sempre mortos.

Como vai chover!
Oh, os tambores da chuva torrencial já se ouvem dentro do chão celeste...
Lá vem o corcel de retorcidas crinas,
e o látego do invisível ginete
ziguezagueia e esconde-se.

Vai chover toda a noite:
- no sono abafado da floresta profunda;
- nas calvas pedras, sulcadas por antigas tormentas;
- no grande mar parado e nublado pelo aguaceiro;
- nos brancos cemitérios de anjos inúteis, de míseras lâmpadas;
- nas ruas vazias, com seus charcos onde se afogam as sombras humanas;
- nos jardins extenuados, com os pássaros escondidos até a voz.

Vai cair uma chuva imensa,
pelos vestidos dos santos,
pelos cabelos dos colegiais,
pelos vidros dos palácios,
pelas escadas dos asilos,
pelos pátios dos manicômios,
dos hospitais e dos necrotérios...

Vai cair uma chuva tão grande sobre todas as coisas,
que tudo ficará abolido;
mas ficará purificado?

Mesmo a palavras de amor,
o suspiro de agonia,
o protesto, o riso, o lamento
serão levados nessa chuva poderosa.


Ninguém poderá levantar a mão
e agarrar e prender como a trança de uma mulher,
a crina de um animal ou a ramagem de uma árvore,
essa livre chuva sem dono humano
que cai sozinha e governa.

Só quando o temporal cessar,
e os ralos das tristes cidades sossegarem,
se poderá saber o que sobrevive.
Se alguma coisa recomeçará. 

(Cecília Meireles - 1946)

domingo, 16 de janeiro de 2011

Solidão Contente

Solidão Contente
O que as mulheres fazem quando estão com elas mesmas
(Ivan Martins, editor-executivo de ÉPOCA)
Ontem eu levei uma bronca da minha prima. Como leitora regular desta coluna, ela se queixou, docemente, de que eu às vezes escrevo sobre “solidão feminina” com alguma incompreensão.
Ao ler o que eu escrevo, ela disse, as pessoas podem ter a impressão de que as mulheres sozinhas estão todas desesperadas – e não é assim. Muitas mulheres estão sozinhas e estão bem. Escolhem ficar assim, mesmo tendo alternativas. Saem com um sujeito lá e outro aqui, mas acham que nenhum deles cabe na vida delas. Nessa circunstância, decidem continuar sozinhas.
Minha prima sabe do que está falando. Ela foi casada muito tempo, tem duas filhas adoráveis, ela mesma é uma mulher muito bonita, batalhadora, independente – e mora sozinha.
Ontem, enquanto a gente tomava uma taça de vinho e comia uma tortilha ruim no centro de São Paulo, ela me lembrou de uma coisa importante sobre as mulheres: o prazer que elas têm de estar com elas mesmas.
“Eu gosto de cuidar do cabelo, passar meus cremes, sentar no sofá com a cachorra nos pés e curtir a minha casa”, disse a prima. “Não preciso de mais ninguém para me sentir feliz nessas horas”.
Faz alguns anos, eu estava perdidamente apaixonado por uma moça e, para meu desespero, ela dizia e fazia coisas semelhantes ao que conta a minha prima. Gostava de deitar na banheira, de acender velas, de ficar ouvindo música ou ler. Sozinha. E eu sentia ciúme daquela felicidade sem mim, achava que era um sintoma de falta de amor.
Hoje, olhando para trás, acho que não tinha falta de amor ali. Eu que era desesperado, inseguro, carente. Tivesse deixado a mulher em paz, com os silêncios e os sais de banho dela, e talvez tudo tivesse andado melhor do que andou.
Ontem, ao conversar com a minha prima, me voltou muito claro uma percepção que sempre me pareceu assombrosamente evidente: a riqueza da vida interior das mulheres comparada à vida interior dos homens, que é muito mais pobre.
A capacidade de estar só e de se distrair consigo mesma revela alguma densidade interior, mostra que as mulheres (mais que os homens) cultivam uma reserva de calma e uma capacidade de diálogo interno que muitos homens simplesmente desconhecem.
A maior parte dos homens parece permanentemente voltada para fora. Despeja seus conflitos interiores no mundo, alterando o que está em volta. Transforma o mundo para se distrair, para não ter de olhar para dentro, onde dói.
Talvez por essa razão a cultura masculina seja gregária, mundana, ruidosa. Realizadora, também, claro. Quantas vuvuzelas é preciso soprar para abafar o silêncio interior? Quantas catedrais para preencher o meu vazio? Quantas guerras e quantas mortes para saciar o ódio incompreensível que me consome?
A cultura feminina não é assim. Ou não era, porque o mundo, desse ponto de vista, está se tornando masculinizado. Todo mundo está fazendo barulho. Todo mundo está sublimando as dores íntimas em fanfarra externa. Homens e mulheres estão voltados para fora, tentando fervorosamente praticar a negligência pela vida interior – com apoio da publicidade.
Se todo mundo ficar em casa com os seus sentimentos, quem vai comprar todas as bugigangas, as beberagens e os serviços que o pessoal está vendendo por aí, 24 horas por dia, sete dias por semana? Tem de ser superficial e feliz. Gastando – senão a economia não anda.
Para encerrar, eu não acho que as diferenças entre homens e mulheres sejam inatas. Nós não nascemos assim. Não acredito que esteja em nossos genes. Somos ensinados a ser o que somos.
Homens saem para o mundo e o transformam, enquanto as mulheres mastigam seus sentimentos, bons e maus, e os passam adiante, na rotina da casa. Tem sido assim por gerações e só agora começa a mudar. O que virá da transformação é difícil dizer.
Mas, enquanto isso não muda, talvez seja importante não subestimar a cultura feminina. Não imaginar, por exemplo, que atrás de toda solidão há desespero. Ou que atrás de todo silêncio há tristeza ou melancolia. Pode haver escolha.
Como diz a minha prima, ficar em casa sem companhia pode ser um bom programa – desde que as pessoas gostem de si mesmas e sejam capazes de suportar os seus próprios pensamentos. Nem sempre é fácil.

sábado, 15 de janeiro de 2011

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Caio Fernando Abreu

"Não sou pra todos. Gosto muito do meu mundinho.
Ele é cheio de surpresas, palavras soltas e cores misturadas.
Às vezes tem um céu azul, outras, tempestade.
Lá dentro cabem sonhos de todos os tamanhos.
Mas não cabe muita gente.
Todas as pessoas que estão dentro dele não estão por acaso.
São necessárias."
(Caio Fernando Abreu)

Ah, o amor...

"Se houver amor em sua vida, isso pode compensar muitas coisas que lhe fazem falta. Caso contrário, não importa o quanto tiver, nunca será o suficiente." (Ann Landers)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011


“Ainda bem que sempre existe outro dia. E outros sonhos. E outras coisas.”

(Caio Fernando Abreu)

domingo, 9 de janeiro de 2011

Mahatma Gandhi

"O que mais me impressiona nos fracos, é que eles precisam humilhar os outros para se sentirem fortes." (Mahatma Gandhi)

sábado, 8 de janeiro de 2011

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Instantes

"Se eu pudesse viver novamente a minha vida,
na próxima trataria de cometer mais erros.
Não tentaria ser tão perfeito, relaxaria mais.
Seria mais tolo ainda do que tenho sido;
na verdade, bem poucas coisas levaria a sério.
Seria menos higiênico. Correria mais riscos,
viajaria mais, contemplaria mais entardeceres,
subiria mais montanhas, nadaria mais rios.
Iria a mais lugares aonde nunca fui,
tomaria mais sorvete e menos lentilha,
teria mais problemas reais e menos imaginários.
Eu fui uma dessas pessoas que viveu
sensata e produtivamente cada minuto da sua vida.
Claro que tive momentos de alegria.
Mas, se pudesse voltar a viver,
trataria de ter somente bons momentos.
Porque, se não sabem, disso é feita a vida,
só de momentos;
não percam o agora.
Eu era um daqueles que nunca ia a parte alguma
sem um termômetro, uma bolsa de água quente,
um guarda-chuva e um paraquedas;
se voltasse a viver, viajaria mais leve.
Se eu pudesse voltar a viver,
começaria a andar descalço no começo da
primavera
e continuaria assim até o fim do outono.
Daria mais voltas na minha rua,
contemplaria mais amanheceres
e brincaria com mais crianças,
se tivesse outra vez uma vida pela frente.
Mas, já viram, tenho 85 anos
e sei que estou morrendo."

- Autoria discutível. Poema atribuído ora a Jorge Luis Borges, ora a Nadine Stair -

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Clarice Lispector

Não me dêem fórmulas certas, porque eu não espero acertar sempre.
Não me mostrem o que esperam de mim, porque vou seguir meu coração!
Não me façam ser o que não sou, não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente!
Não sei amar pela metade, não sei viver de mentiras, não sei voar com os pés no chão.
Sou sempre eu mesma, mas... com certeza não serei a mesma pra SEMPRE!
(Clarice Lispector)

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mensagem de Fim de Ano

Cultura Gaudéria!

Oração do Gaúcho - Pai Nosso

Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e com licença do Patrão Celestial. Vou chegando, enquanto cevo o amargo de minhas confidências, porque ao romper da madrugada e ao descambar do sol, preciso camperear por outras invernadas e repontar do Céu a força e a coragem para o entrevero do dia que passa. Eu bem sei que qualquer guasca, bem pilchado, de faca, rebenque e esporas, não se afirma nos arreios da vida, se não se estriba na proteção do Céu. Ouve, Patrão Celeste, a oração que te faço ao romper da madrugada e ao descambar do Sol: "Tomara que todo o mundo seja como irmão ! Ajuda-me a perdoar as afrontas e não fazer aos outros o que não quero para mim". Perdoa-me, Senhor, porque rengueando pelas canhadas da fraqueza humana, de quando em vez, quase sem querer, eu me solto porteira a fora... Êta potrilho chucro, renegado e caborteiro... mas eu te garanto, meu Senhor, quero ser bom e direito ! Ajuda-me, Virgem Maria, primeira prenda do Céu. Socorre-me, São Pedro, Capataz da Estância Gaúcha. Pra fim de conversa, vou dizer meu Deus, mas somente para Ti, que tua vontade leva a minha de cabresto pra todo o sempre e até a querência do Céu. Amém!


D. Luiz Felipe de Nadal, bispo de Uruguaiana
Fonte: http://programaraizesdosul.blogspot.com/2009/10/pai-nosso-gaucho.html

domingo, 2 de janeiro de 2011

Martha Medeiros

Deixe-se em paz

Geralmente é o que se deseja intimamente: paz para o mundo, paz para todos, paz para os torcedores, paz para os moribundos, paz para os iraquianos. É um desejo legítimo, mas qual a nossa contribuição prática para ajudar a construir uma serenidade universal? O máximo que podemos fazer é garantir nossa própria paz. Portanto, esses são os meus votos: deixe-se em paz.
Parece uma frase grosseira, mas é apenas um desejo sincero e generoso. Deixe-se em paz. Não se cobre por não ter realizado tudo o que pretendia, não se culpe por ter falhado em alguns momentos, não se torture por ter sido contraditório, não se puna por não ter sido perfeito. Você fez o melhor que podia.
Aproveite para estabelecer metas mais prosaicas para o futuro que virá, ou até meta nenhuma. Que mania a gente tem de fazer listinha de resoluções, prometer mundos e fundos como se uma simples virada de ano bastasse para nos transformar numa pessoa mais completa e competente. Você será o que sempre foi – e isso já é muito bom, pois presumo que você não seja nenhum contraventor, apenas não consegue dar conta de todos os seus bons propósitos, quem consegue? Às vezes não dá. Vá no seu ritmo, siga sendo quem é, não espere entrar numa cabine e sair de lá vestido de super-homem ou de supermulher. Deixe de fantasias. Deixe-se em paz.
Se quer tomar alguma resolução, resolva ajudar os outros, fazer o bem, dedicar-se à coletividade, seja mais solidário. Não deixe os menos favorecidos na paz do abandono, na paz do esquecimento. Mas esquecer um pouco de você mesmo, pode. Deve. Não se enquadre em comportamentos que não lhe caracterizam, não se enjaule por causa de decisões das quais já se arrependeu, não se arrebente por causa de questionamentos incessantes. Liberte-se desses pensamentos todos, dessa busca sofrida por adequação e ao mesmo tempo por liberdade. Nossa, ser uma pessoa adequada e livre ao mesmo tempo é uma senhora ambição. Demanda a energia de uma usina. Será mesmo tão necessário pensar nisso agora? Deixe-se em paz.
Não dê tanta importância à melhor roupa para vestir, à melhor frase para o primeiro encontro, às calorias que deve queimar, à melhor resposta para quem lhe ofendeu, às perguntas que precisa fazer para se autoconhecer. Chega de se autoconhecer. Deixe-se em paz.
No fundo, estou escrevendo pra mim mesma. Não me deixo em paz. Estou sempre avaliando se agi certo ou errado, cultivo minhas dúvidas com adubo e custo a me perdoar. Tenho passe livre para o céu e também para o inferno. Preciso me deixar em paz, me largar de mão, me alforriar.
Só falta alguém ensinar como é que se faz isso.

(Martha Medeiros – ZH – Caderno Donna – 02/01/2011)


sábado, 1 de janeiro de 2011