quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Manual do Messias - Richard Bach

PREFÁCIO

       A última vez que vi o Manual do Messias foi quando o joguei fora.
     Estava lendo-o como Ilusões instruía: concentre-se na pergunta, feche os olhos, abra o livro aleatoriamente, escolha a página da direita ou a da esquerda. Abra os olhos e leia a resposta.
     Sempre funcionava: o medo se dissolvia em sorriso, a dúvida se dissipava por uma compreensão súbita. O que estas páginas têm a me dizer sempre me fascinou e me divertiu.
     Naquele dia sombrio, abri o livro, esperançoso. "Por que meu amigo Donald Shimoda, que tinha tanto a ensinar daquilo que tanto precisávamos aprender, teve uma morte tão sem sentido?"
     Abram os olhos e ouçam a resposta:

Tudo neste livro pode
estar errado.

     Lembro-me de que fui arrebatado por um sentimento de raiva, de ódio, de fúria imediata. Recorri a ele e essa era a resposta que tinha a me dar? Com força, lancei o livro o mais longe que consegui, as páginas voaram por sobre um campo de feno em Iowa, tudo caindo em câmera lenta, tombando vagarosamente no meio das folhas. Não procurei saber onde havia caído.
     Parti de avião daquele campo e nunca mais voltei. O livro, aquelas páginas de agonia inúteis e nocivas, se fora.
     Vinte anos depois, chegou um pacote na editora para um autor. Dentro do pacote, havia um bilhete:

     Caro Richard Bach, encontrei isto quando estava arando o campo de soja de meu pai. Um quarto do terreno era usado para cultivo do feno e ele me disse que certa vez você pousou ali com o cara que foi morto, e disseram que teria sido mágica. Então suponho que este exemplar tenha ficado soterrado por um bom tempo, o campo foi arado ano após ano e ninguém havia visto o livro até agora. Apesar de tudo, não está muito danificado e imagino que seja de sua propriedade. Se ainda estiver vivo, deveria tê-lo de volta.

     Nenhum remetente. Nas páginas, viam-se as marcas de meus dedos sujos de óleo do motor de um biplano velho; uma enxurrada de poeira grossa e pedaços de capim voaram quando o abri.
     Passada a raiva, segurei o livro por muito tempo e lembrei.
     Tudo neste livro pode estar errado. Com certeza. Mas tudo pode estar correto também. O certo e o errado não cabem ao livro dizer. Eu sou o único que posso decidir o que é verdadeiro para mim. Eu sou o responsável.
     Folheei as páginas, pensando. Será que o livro que me foi devolvido é o mesmo que joguei fora há tanto tempo? Ele descansou em paz por tanto tempo debaixo da terra ou havia se modificado para se tornar o que algum leitor viria a precisar lembrar?
     Por fim, de olhos fechados, segurei o manual mais uma vez e perguntei:
     Caro volume estranho e místico, por que voltou para minhas mãos?
     Folheei as páginas por alguns instantes, abri os olhos e vi.

Cada pessoa, todos os acontecimentos de sua vida
ali estão porque você os pôs ali.
O que fazer com eles cabe a você resolver.

     Sorri ao ler isso. E decidi, desta vez, ficar com o Manual do Messias, em vez de livrar-me dele.
     E decidi agora, em vez de ocultá-lo no silêncio, deixar que você o desvele por inteiro e ouça seus sussurros, sempre que quiser.
     Já usei em outros livros algumas das ideias que encontrei neste: há trechos em Ilusões, Um, Fernão Capelo Gaivota e Fora de mim. A vida de um autor, como a de um leitor, é ficção e fato; ela quase aconteceu, foi meio lembrada e já foi sonhada. A menor parte de nosso ser é uma história que outra pessoa pode conferir.
     No entanto, ficção e realidade são amigas; a única forma de contar algumas verdades é por meio da linguagem das histórias.
     Donald Shimoda, por exemplo, meu relutante Messias, é uma pessoa real, embora, até onde eu saiba, nunca tenha tido um corpo mortal ou uma voz que alguém pudesse ouvir. Da mesma forma, Stormy Ferret também é real, voando sempre com seu meio de transporte em miniatura em meio a uma terrível tempestade porque ela acredita em sua missão; assim é Harley Ferret se lançando a um mar da meia-noite para salvar o amigo; assim são todos os personagens reais que me deram vida.
     Basta de explicações. Antes de levar um desses manuais para casa, entretanto, teste este exemplar, certifique-se de que está funcionando.
     Concentre-se em uma pergunta, por favor. Agora feche os olhos, abra o maual aleatoriamente e escolha a página da direita ou a da esquerda. 

                                                                                                           - Richard Bach 

- Página 160, à esquerda: "Os seus amigos o conhecerão melhor no primeiro minuto em que se conhecerem do que os seus conhecidos o conhecerão em mil anos."

- - O que li foi esta frase, mas a pergunta, ah, esta só eu conheço... Quem sabe um dia talvez eu a revele...  Jeanete

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